Olívia olhou novamente para o relógio na parte inferior da tela do computador, onde o relógio estava, com números pequenos e em branco. Ainda faltava um tempo para que seu expediente acabasse, mas ela não se importava tanto assim.

Era só que estava ligeiramente entediada em seu trabalho, ultimamente, com poucas coisas a fazer, a não ser distribuir cafés para seus superiores, e digitalizar os documentos que colocavam em sua mesa.

Havia se passado mais de um ano, desde que Álvaro fora assassinado, e pouco menos que isso, desde que Matteo — ninguém mais, ninguém menos, que seu próprio irmão mais velho — havia lhe dito que teria que se casar com Xavier, irmão mais velho de Álvaro, seu falecido noivo!

Bons meses haviam se passado desde que ela e o auror comandante haviam voltado a conversar, e, com uma ajuda muito mais que bem vinda de Aquiles, o filho de Xavier, eles começaram a se entender. E, pelo menos, eles começaram a se entender. Talvez até um pouco demais…

De qualquer forma, ali estava a ruiva, fazendo mais do mesmo, desde que o jurídico da COMASUL parecia não estar tão movimentado assim: digitalizando documentos e preparando cafezinho.

Suspirou, enquanto se alongava, esticando os músculos das costas pareciam ligeiramente doloridos. Ajeitou os documentos, batendo-os suavemente na mesa para alinhá-los, e se colocou de pé em seus saltos — que a faziam parecer bastante profissionais junto com o terno de saia que vestia — com os processos em mãos, e se pôs a andar pelos prédios da COMASUL.

Ela chegou na Biblioteca de Registros e sorriu para o bibliotecário, acenando suavemente para ele.

— Oi. — disse, sorrindo gentilmente para o funcionário — Trouxe alguns arquivos pra colocar na biblioteca. Posso deixá-los aqui em cima? — perguntou, colocando os processos em cima do balcão que impedia a entrada de outras pessoas na biblioteca.

— Deixa aí, alguém vai colocar nas prateleiras. — disse o homem ligeiramente ranzinza, sem prestar muita atenção na ruiva.

Olívia ergueu uma sobrancelha, olhando para o homem e deu de ombros, enquanto se virava para sair da Biblioteca. Ainda conseguiu ouvir o mais velho chamar seu assistente para colocar os arquivos nas prateleiras da biblioteca, e internamente agradeceu por não ter que se reportar a alguém tão ranzinza quanto aquele homem.

Seus saltos clicavam enquanto ela caminhava, pensando na vida, pelas seções, cantarolando uma música qualquer que vinha em sua cabeça enquanto voltava para a Ala Jurídica, onde sentou-se de volta em sua mesa. Olhou em volta, procurando qualquer coisa para fazer, mas nada parecia… Suspirou novamente, depois de alguns instantes parada olhando para a tela de seu computador, ainda exibindo o programa de digitalização que usara pouco antes de se dirigir para a Biblioteca.

Não tem nada pra fazer aqui! Pensou, enquanto abaixava a cabeça contra a superfície gelada de sua mesa. Levantou-a de supetão novamente, olhando em volta — não havia ninguém que parecesse querer alguma coisa. A Ala Jurídica nunca esteve tão parada, mesmo assim, deveria haver alguma coisa que ela pudesse fazer.

Determinada, Olívia se levantou de sua cadeira, seguindo em direção à sala do juíz — Ian estava sentado atrás de sua mesa, analisando alguns documentos, com uma caneta apoiada entre seus dedos.

A ruiva bateu na porta com o nó do dedo indicador, chamando a atenção de seu superior. Quando o viu olhar para cima, ela sorriu, solícita.

— Tem algo que eu possa fazer? — perguntou, ligeiramente esperançosa pelo que poderia fazer, mas a negativa do chefe da Suprema Corte fez o pequeno balão que havia inflado com  a esperança murchar rapidamente. — Tudo bem então.

Ela saiu ligeiramente cabisbaixa, sentindo-se como uma criança entediada, enquanto voltava a se sentar atrás de seu computador, entrando na versão de desktop do Witchgram — atualizando-se sobre as coisas novas que apareciam na sua timeline, uma vez que não tinha nada melhor pra fazer.

Ela estava olhando a tela do celular, a foto de um desenho feito à carvão brilhava, com a legenda que marcava-a: ”Você se lembra dessa tarde? @oliewolf” E um suspiro escorreu por seus lábios, enquanto um sorriso suave e triste aparecia em seus lábios rosados e levemente brilhantes por causa do brilho labial.

Era um desenho que Michelle havia feito quando ainda estavam em Castelo Bruxo. Eles eram tão jovens e ingênuos naquela época. E sequer havia se passado tanto tempo… Para Olívia, parecia que tinha se passado uma década, mas haviam se passado somente alguns anos.

No desenho, dois jovens liam livros volumosos, e pareciam em paz enquanto a menina se deitava no colo do namorado.

Era um desenho muito bonito, mas Olívia, Álvaro e Michelle haviam passado muitas tardes embaixo daquela mesma árvore, estudando todas as matérias que podiam estudar.

Seu coração apertou e a ruiva olhou para seu atual noivo — não exatamente por escolha — e comandante dos aurores, com quem o juíz do Supremo parecia trabalhar com bastante afinco.

— Xavier! — exclamou Olívia, tirando o olhar da tela do seu computador para encarar o homem forte, com cabelos dourados. — Estava olhando umas fotos. — disse, entregando o celular para o comandante dos aurores, com a tela com a foto. — Michelle nos desenhou alguns anos atrás. — disse, sorrindo suavemente para o homem.

Eles não começaram com o pé direito, principalmente por sua causa — isso ela tinha que admitir. Olívia havia sido um verdadeiro pé no saco até que seu relacionamento com o comandante melhorasse, e, por esse progresso, ela tinha que dar créditos à seu afilhado, filho do comandante, Áquiles era o anjinho e a cola que os fazia agir como seus pais, e aquilo havia feito com que se tornassem mais amigáveis — pra dizer o mínimo — um com o outro.

A assistente do Judiciário se levantou da sua cadeira, tirando a bolsa de onde havia pendurado, no encosto de sua cadeira, e sorrindo para o jovem comandante.

— Estou bem. Juro. — perguntou, sorrindo de forma tranquilizadora para seu noivo. — Podemos ir?